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NOSSA HISTÓRIA ESFARRAPADA

Chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro em 07/03/1808,
óleo de Geoffrey William Hunt, Inglaterra, 1999

NOSSA HISTÓRIA ESFARRAPADA

Veremos hoje uma das maiores fraudes de nossos livros de história, um exemplo claro de informação "chutada" e de como instituições com rigor científico e apreço pela pesquisa, como o IBGE, podem se deixar enrolar

Certamente você aprendeu na escola sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil, fugindo do exército de Napoleão que invadiu Portugal. Os livros dizem que foram 15 mil pessoas, número que aparece até no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Mas será que foi mesmo isso tudo? Ora, 15 mil pessoas, em 1808, correspondiam a 25% da população urbana do Rio de Janeiro e a 8% da de Lisboa. Onde esse pessoal todo foi acomodado, repentinamente, na cidade? E quantas embarcações foram necessárias para trazer tanta gente? Alguém pensou nisso?

Teve um que parou para pensar, sim. Foi o pesquisador e professor Nireu Cavalcanti, autor do livro "O Rio de Janeiro Setecentista", que esclareceu esta história. Lógico que ele não foi ao IBGE, mas recorreu aos arquivos do movimento do Porto do Rio de Janeiro e às listas de passageiros dos navios que chegaram naquela época.

O QUE FOI DESCOBERTO

* Como a capacidade dos navios mercantis e de passageiros, na época, era de 80 pessoas em média, seria necessária uma portentosa frota de 187 embarcações (que obviamente não existiu) para trazer os 15 mil portugueses;

* Nos anos de 1808 e 1809, segundo a Alfândega do Rio, aportaram na cidade menos de 30 embarcações trazendo a família real e seus acompanhantes;

* Somando as listas de passageiros dessas embarcações, tem-se o total de 420 pessoas, sendo 60 delas da família real (veja lista minuciosa pesquisada pelo Prof. Nireu Cavalcanti);

Um erro de quase 14.500 pessoas ou 97,5% - deve ser um recorde no IBGE. O mais grave é que embora os números corretos tenham sido divulgados pelo prof. Nireu Cavalcanti em 2004, ainda não se modificou nenhuma linha dos livros e nem do site do governo brasileiro.

Como a maior parte das revisões de nossa história, esta também tende a ser sepultada pela versão errada. Mudar livros e cabeças dá muito trabalho e despesa, quase tanto quanto pesquisar e pensar. E 15.000, afinal, é muito mais glamouroso que 420.


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