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CAÇA E SEGURANÇA

O texto que se segue, foi publicado na revista Caça Maior e Safaris e teve como objectivo chamar a atenção das entidades organizadoras de Montarias para a sua responsabilidade nas questões da segurança de tiro.
CAÇA E SEGURANÇA
A notícia recente de mais um acidente de caça, ocorrido durante uma Montaria, leva-nos a questionar de novo o problema da segurança nas Montarias e de uma forma mais geral, na Caça. Todos sabemos que a prática da actividade venatória, associada ao uso das armas de fogo, implica a existência de risco. No entanto, este risco deve ser assumido de forma responsável e ponderada. Para tanto será desnecessário recordar todo um conjunto de regras e de normas de segurança sobre armas de fogo, que até são do conhecimento do maioria dos caçadores mas que estes fazem questão de esquecer caindo assim, por terra, o conceito da responsabilidade. Por sua vez, no rebuscar dos mais primitivos instintos, o caçador transforma-se num predador maior alheando-se de tudo o que o rodeia e visualiza apenas a sua preza. Assim, e sem sequer se aperceber, perde a ponderação.

E o acidente acontece!

Se por um lado, os acidentes com armas de fogo que acontecem no decurso das práticas de Caça Menor têm consequências mais ou menos superáveis, o mesmo não se pode dizer quando a munição utilizada é uma bala disparada por uma espingarda de caça, ou pior, por uma carabina. Nestas situações o risco é tão grande que compromete a Vida Humana.
Por outro lado, as jornadas de caça não acontecem espontaneamente. No presente modelo de Regime Ordenado, qualquer actividade venatória implica a definição de um espaço, a escolha do processo de caça e a orientação dos caçadores no terreno – logo uma organização - considerando que a maioria dos participantes serão de fora da região ou área de caça seleccionada.
E esta questão arrasta-nos, irremediavelmente, para o actual panorama das montarias, em Portugal.
Todos sabemos que qualquer tipo de zona de caça, nos tempos presentes, “organiza” montarias. Chegamos ao ponto de realizar, no mesmo distrito e no mesmo dia, 5, 10 e mais montarias em simultâneo, sendo certo que o actual modelo de licenciamento facilitou o aumento da procura para este tipo de realizações. A montaria passou assim a ser encarada, pelas entidades gestoras, como uma forma mais fácil e mais rápida de angariar os fundos que sempre necessitam. E ao pretenderem realizar tantas montarias esquecem que a Segurança é a regra básica e fundamental quando se “arma” uma mancha. Esquecem-se também, com frequência, das regras de sustentabilidade da fruição dos recursos e esquecem-se de igual modo das regras básicas e de todos os pressupostos inerentes à organização responsável deste tão nobre processo de caça.

No caso vertente, disseram alguns dos presentes, que os postos estavam marcados ao longo de uma caminho recto e plano, e que apenas distariam, uns dos outros, cerca de 30 metros. Ora, só podemos entender este distanciamento entre postos pela “necessidade” de colocar na mancha um número de caçadores que esta não comportava. Só podemos igualmente entender que o acidente tenha ocorrido porque quem marcou aqueles postos não sabia como o devia fazer em relação ao caminho e em relação à mancha, apesar de se dizer que o caçador atingido se teria deslocado do seu posto. Face a estas declarações como entender então que um dos postos, ao atirar a um javali com bala de caçadeira tenha varado o animal e o caçador do posto anexo e que a bala tenha caído, já sem força, aos pés de um terceiro que se encontrava imediatamente a seguir?

 Nova questão se levanta se considerarmos, outra vez, o problema da responsabilidade.
Sendo certo que pelo simples facto de ser portador de uma arma de fogo a responsabilidade maior cabe ao autor do disparo, como tipificar então a responsabilidade da entidade organizadora que marcou aqueles postos? Como entender ou aceitar tantos desconhecimentos que não só podem pôr em causa a Segurança como, mais grave ainda, a Vida Humana?
Logo se fizeram ouvir vozes que propunham soluções de remedeio para evitar este tipo de acidentes: desde o uso obrigatório de coletes de sinalização até à proibição da marcação de postos nos caminhos, passando pela formação cívica do caçador e a realização prévia de testes psicotécnicos. Não seria mais eficaz responsabilizar as entidades organizadoras pelo cumprimento das mais elementares normas de Segurança?
Qualquer organizador de montaria deve ter sempre bem presente o factor risco inerente ao acto que se pretende levar a cabo e assim, organizar toda jornada de modo a tornar os ditos acidentes impossíveis.
Como?
- Utilizando as linhas de água para demarcar as diferentes armadas, fazendo com todos os tiros possíveis impactem na barreira oposta à localização dos postos;
- Distanciando os postos de forma que um eventual tiro lateral não possa ter consequências, usando para esse efeito os declives e curvas do terreno;
- Não sobrelotando as manchas, ou seja marcando apenas os postos que esta responsavelmente comporta, tendo em conta as considerações anteriores;
- Nunca marcando postos em locais onde o acidente seja possível, mesmo de forma fortuita. É preferível deixar sair animais sem serem atirados, do que facilitar um acidente.
- Cumprindo e fazendo cumprir escrupulosamente todas as normas e regras de segurança da Montaria que se encontram publicitadas.
Se todos os que organizam montarias tentarem cumprir com estas regras de segurança, certamente estarão a oferecer uma jornada de caça muito mais segura, logo de muito maior qualidade, contribuindo para que probabilidade do acidente acontecer seja mínima, senão quase impossível.
(Publicado na Caça Maior e Safaris, nº17 Março/Abril de 2010)
Texto e Ilustrações do autor do domínio

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