♦ Diplomata, erudito, humanista e poeta Francesco Petrarca ( 1304 - 1374) apresenta a multifacetação do período transitório em que viveu (configurando-se como um dos últimos homens da Idade Média e um dos primeiros indivíduos a quem podemos denominar “modernos”). Por meio de seu lirismo amoroso (encarnado na figura de Laura, mulher concreta, diferente da amada de Dante, Beatriz), Petrarca destaca a figura humana não como uma mera “criatura”, mas como um verdadeiro indivíduo que possui suas próprias vontades e que imprime no universo em que reside a sua própria psicologia.
♦ Sua poesia apresenta, porém, nuances neoplatônicas no que concerne à temática do amor e… com um pouco de ousadia, podemos supor que o pesar sentido em alguns momentos de sua obra sejam “indicadores” de um futuro sentimento romântico (fortemente melancólico e individualista em determinadas estruturas).
♦ Dolce stil nuovo: a partir deste conceito que aparece na Divina Comédia, Petrarca cria um novo tipo de poema. A insuperada forma do soneto italiano… representante da “modernidade” na poesia de cunho amoroso.
♦ Nossa comum-unidade: o estilo de Petrarca, bem como sua expressão lírica expressam ao longo dos séculos o que Alexei Bueno chamaria de “nossa sensibilidade poética ocidental”.
♦ Tentemos imaginar o que seria do nosso Camões ou mesmo de um Sá de Miranda… dos maneiristas ingleses, ou do Siglo del Oro espanhol sem a influência deste poeta e humanista italiano… Como se configuraria determinados momentos da expressão lírica ocidental?
Para apreciação…
Soneto XXII
S’ amor non è, che dunque è quel ch’ io sento?
Ma s’egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond’ è si dolce ogni tormento?
S’a mia voglia arado, ond’ è ‘I pianto e ‘I lamento?
S’a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s’io nol consento?
E s’io ‘I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,
Sí lieve di saber, d’error sí carca,
Ch’ i i’ medesmo non so quel ch’ io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno.
- Soneto XXII
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.
E se eu consito sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
(Petrarca e Laura)
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